Quais são os exames de imagem que possibilitam o diagnóstico da doença de Crohn?
Atualmente existem duas modalidades principais de avaliação do trato digestivo:
I) Exames endoscópicos
Os exames endoscópicos disponíveis permitem avaliar o intestino delgado através da enteroscopia e cápsula endoscópica e, examinam o intestino grosso, por meio da colonoscopia.
II) Exames radiológicos
Os exames radiológicos habitualmente utilizados para o diagnóstico da doença de Crohn são o trânsito intestinal e a enterografia por tomografia computadorizada (TC) ou por ressonância magnética (RM).
Quais são os mais usados/recomendados hoje pelos médicos?
Os exames endoscópicos tem grande importância na confirmação do diagnóstico, pois, além de permitir a observação direta da mucosa intestinal, possibilita a coleta de biópsias e, também, em muitas ocasiões tem papel fundamental no tratamento das complicações.
Nos últimos anos, os pacientes com suspeita de alteração inflamatória no intestino delgado tem sido investigados pela Tomografia ou pela Ressonância, cujos resultados podem revelar alterações compatíveis com a doença inflamatória ou indicar a existência de outras alterações, com câncer ou infecção.
Quais são as principais diferenças de cada um deles?
Exames endoscópicos
Endoscopia digestiva alta
Este exame, denominado também esofagogastroduodenoscopia, consiste na introdução de um aparelho de gastroscopia através da boca, que progride através da faringe permitindo a visualização completa de esôfago, estômago e parte do duodeno, até atingir a segunda porção duodenal.
A Colonoscopia avalia o final do intestino delgado, denominado de íleo terminal e, todo intestino grosso (cólon) e o reto. Considerando que cerca de 70% dos pacientes portadores da doença de Crohn apresentam alteração no íleo terminal, a colonoscopia é um dos exames mais indicados e importantes nesta enfermidade.
A enteroscopia assistida por balão é um método relativamente novo, lançado para prática médica em meados de 2005. Tem se mostrado útil na avaliação de alterações do intestino delgado que não eram acessíveis através da endoscopia alta e da colonoscopia. É particularmente importante quando há necessidade de coleta de material de biópsia e nos casos em que seja possível tratamento (sangramento, pólipos, estreitamento). Sua limitação, entretanto, é devido a baixa disponibilidade e alto custo, pois requer aparelho endoscópico especial, além de equipe treinada.
A cápsula endoscópica, também, é um método recente, introduzido no inicio de 2000 ,mas, muito interessante pelo fato de permitir a avaliação de praticamente toda extensão do intestino delgado de modo não invasivo, sem a necessidade de sedativos ou exposição à radiação. Ainda é um método com baixa disponibilidade e de alto custo, pois a cápsula é descartável e requer treinamento especializado para a interpretação do resultado.
Exames Radiológicos
O Trânsito Intestinal é um dos exames mais baratos e disponíveis em nosso meio, ou seja, pode ser realizado na maioria das cidades brasileiras. Pelo exame de transito intestinal pode-se analisar a dinâmica do intestino, pois acompanha a movimentação do contraste no trajeto do intestino delgado. A limitação é que só fornece informações do interior do intestino delgado.
A Tomografia Computadorizada (TC) e a Ressonância Magnética (RM) avaliam a parede intestinal (se está espessada/inflamada), as alterações nos gânglios (linfonodos) e também, as alterações da gordura ao redor das alças intestinais, bem como, comprometimento de estruturas adjacentes e de outros órgãos do abdome, como fígado, vias biliares, pâncreas, baço, rins, adrenais, aorta e bexiga.
O estudo contrastado de trânsito intestinal vem sendo substituído pela Enterografia por Tomografia como principal método de imagem para a avaliação inicial do paciente com suspeita de doença de Crohn. O exame permite a diferenciação entre alterações agudas e crônicas da doença de Crohn, sendo possível avaliar a presença de obstruções, fístulas e perfurações do intestino delgado e também do intestino grosso.
A enterografia também pode ser realizada pela Ressonância Magnética, sendo que os achados são, basicamente, os mesmos encontrados na TC. A maior vantagem da Ressonância é a não utilização de radiação. Embora os equipamentos de tomografia mais modernos emitam doses menores de Rx, é importante lembrar que os efeitos da radiação são cumulativos e este detalhe é especialmente importante em pacientes jovens que poderão necessitar de vários exames ao longo do tempo.
A Ressonância tem sido menos utilizada por ser um exame mais longo, mais caro e que apresenta menor resolução espacial para avaliação do intestino em comparação à TC. Por outro lado, é um dos melhores métodos para avaliação de fístulas perianais sendo capaz de fornecer informações valiosas na escolha do tratamento, bem como, no acompanhamento da resposta ao mesmo.
Cláudio L. Hashimoto e Angela Hisae Motoyama Caiado, Médica Assistente do Instituto de Radiologia (Inrad) do HC FMUSP